top of page
Buscar

Em Ana Rech, Chico do Mel e Sabores da Tereza, um achado!

  • Maria Luiza Santos Soares/Rosana Sperottoes
  • 31 de jul. de 2017
  • 4 min de leitura

Estacionamos o trailer na bucólica Ana Rech, numa tarde nublada, neste cenário que parece preparado para pequenas cerimônias ou para um filme de época. A capelinha (veja a história abaixo) é ponto de visitação, meio escondida numa ruazinha próxima à principal, onde a vida da comunidade acontece.

De Porto Alegre rumo a São Leopoldo, aproveitei o passeio pela Rodovia do Parque. Por ali, podemos apreciar uma paisagem que esteve escondida por muito tempo. Minha surpresa desta vez foi a silhueta do Morro do Chapéu localizado em Sapucaia. Uma serrinha fincada no Vale do Sinos entre os pequenos morros de Porto Alegre e o início da Serra gaúcha. Parei na estrada para fotografar e imaginei o dono do chapéu acordando de um sono milenar.

Saímos de São Leo perto do meio-dia, os compadres Rosana e Maurício, a Lili, companhia de sempre, e eu. Pegamos novamente a RS-240 e almoçamos já em Portão, no Sabores da Serra. Destaque para as cebolas empanadas.


Como sempre, tivemos algumas trapalhadas com o percurso, mas chegamos faceiros a Ana Rech, nosso destino, para relaxar no Bela Vista Parque Hotel, outro local especial na Serra, com muito verde, trilhas e uma capelinha para Santo Antônio. Do primeiro prédio de madeira, inaugurado em 1927, o hotel mantém os 170 mil metros quadrados e conta hoje com um pessoal muito atencioso, um bom café da manhã e, aos domingos, um café colonial resgatando a tradição italiana da região.


Descobrimos o hotel pela Internet e fomos em busca da melhor tarifa nos sites de hospedagem. No Expedia, fechamos a reserva - pagamos a metade do valor da diária de balcão para dois apartamentos (em torno de 140 reais por casal). Como não dispõe de acomodações térreas, ficamos no segundo piso, mas a escada de poucos degraus não chegou a dificultar muito nosso acesso.

Ana Rech é marcada pelas camélias, que se exibem por todas as ruas. Tivemos sorte de pegá-las em plena floração. O distrito de Caxias do Sul tem esse nome graças à pioneira Anna Rech, que migrou para a região em 1877, aos 42 anos, com seus sete filhos. Logo ela percebeu que seu lote ficava à beira da estrada por onde circulavam os tropeiros. Construiu uma pousada e, quando os tropeiros se perguntavam onde iam “pousar”, respondiam: - na Ana Rech.


Chegamos ao Bela Vista Parque Hotel no final da tarde. Funcionários solícitos conseguiram suprir as necessidades especiais da Lili, providenciando café em um dos quartos amplos que escolhemos. No salão comum, onde durante a semana é oferecido o café da manhã, crepitava um fogo bom na lareira. Uma família nordestina desfrutava de amendoins torrados e pinhão oferecidos pelo hotel.


Nos reunimos para traçar os planos do dia seguinte. Afinal, o motivo do nosso passeio foi a história do "Chico do Mel e Sabores da Tereza”. Perguntamos ao gerente sobre o Chico que, gentilmente, ligou e avisou da nossa chegada. Atravessamos a rua principal de Ana Rech fotografando as camélias para chegar no final do calçamento onde fica o restaurante. Galinhas e galos na grama verde da entrada dão as boas-vindas. Chegamos como se estivéssemos sendo recebidos por um amigo da colônia. Cuia de chimarrão pronta para um mate. E logo Chico foi mostrando todo o cenário do lugar. O chalé típico dos primeiros imigrantes, com varanda, um galpão com fogo de chão rodeado de antigos implementos agrícolas nos carregam para o mundo da simplicidade e da boa acolhida. Uma experiência sensorial única.

Outros clientes se movimentavam pela propriedade, bebericando, conversando com Chico como velhos amigos. Fica claro que não se vai ali só pra comer, mas para sentir um pouco daquilo que está perdido nos dias de hoje. Pura hospitalidade do povo da roça. O almoço só é servido no domingo, e é preciso reservar, pois o salão não é grande. Durante a semana, aceita reserva para grupos. Basta ligar e combinar.


Depois de acomodados, fomos nos servir dos quitutes dispostos sobre um fogão a lenha e as saladas, bem variadas e fresquinhas, numa mesa ao lado. Podemos afirmar com convicção que foi a melhor comida dos últimos tempos. Digna de qualquer restaurante com várias estrelas Michelin. Polenta mole feita com farinha de milho orgânico moída em moinho de pedra, d'ali mesmo de Ana Rech. Frango caipira, molho de cogumelos, matambre, costelinhas de porco, espaguete feito pela própria Tereza, aipim e uma sopa de agrião. Uma comida de comer de joelhos, agradecendo aos céus pela existência desta chef. Lembrei logo do filme Ratatoulle. Quando a gente degusta a primeira garfada, é como o chamamento da mãe. O sabor entra e nos sentimos abraçados e satisfeitos.

Sagu com vinho bordô é anunciado assim que vai à mesa, e os clientes se agilizam para conhecer mais esse sabor. Incrível! - não tem outra expressão para a sobremesa típica tão bem preparada.

E quando pensamos que o banquete estava finalizado, eis que surge Tereza com mais um carinho: café passado na mesa, individualmente, com as xícaras acondicionadas numa fôrma com água quente para garantir a temperatura

Por 40 reais, participamos de uma experiência gastroantropológica memorável! Os sabores de Tereza começaram na infância, ao lado da mãe, que lhe ensinou os segredos da comida campeira. Quando se mudaram para Nova Veneza, em Santa Catarina, Tereza logo se interessou por aquela outra cultura: a gastronomia italiana, das massas e molhos especiais. Sua arte foi aprimorada na escola ICIF (Italian Culinary Institute for Foreigners) da Universidade de Caxias. Todo esse saber transformou-se num sabor único que nos conduz a lembranças ancestrais. Casada com o Chico, produtor de mel, eles criaram um local de boa mesa e convívio, há 30 anos, recebendo grupos com horário agendado. Só recentemente, passaram a servir aos domingos, para os sortudos que conseguem uma reserva.


De corpo e alma bem alimentados, começamos a voltar, dessa vez pela BR-116. Passando Caxias, outros cenários, outros astrais, como a pequenina Galópolis, que mesmo vista só da janela do carro, mostra uma atmosfera diferente, lembrando uma aldeia com seus chalés antigos.

Mais adiante, em Nova Petrópolis, as cerejeiras em flor colorem as ruas e parte da BR de cor de rosas. Vale um passeio só para apreciá-las no seu curto período de florada.

O sol se despediu na estrada...

... e a lua cheia nos recepcionou na chegada a São Leo, abençoando nossas horas fora de casa.

 
 
 

コメント


São Leopoldo - 2017

bottom of page