Uma casa que resguarda e inova o tempo
- Maria Luiza Santos Soares
- 3 de abr. de 2018
- 3 min de leitura

Garopaba é um lugar que faz parte da vida da minha geração (58). Todo mundo curtia aquela praia “nova”, de águas calmas e de natureza exuberante. Quem é de São Leopoldo, especialmente, foi iniciado nesta paixão pela família Hübner. Manfredo e Theca, e os filhos Beto, Kaco, Suzi e Simone aportaram por lá na década de 70 e nunca mais a deixaram. São os desbravadores deste local encantado e também seus divulgadores.
Por isso foi com grande alegria que fomos conhecer a “Casa do Padre – Cultura e Gastronomia”, ao lado da Igreja São Joaquim, eu e os afilhados Vicente e Mônica.

O local oferece uma das mais belas vista da “enseada dos barcos”, ou garopaba, em guarani. Lá, uma das Hübner, Suzi, e o marido Wolf, criaram um espaço carregado de história e amor à cidade. Esculturas, fotografias do pai, mestre dos clicks, e artesanato do melhor produzido na cidade podem ser adquiridos na loja integrada ao bar.



A casa foi construída pelo Padre Rafael Faraco, após sua nomeação para a paróquia de São Joaquim da Garopaba, em 1864. Logo na chegada deu mostras que faria história na pequena vila, conseguindo apoio do Governo para reformar o templo que estava em péssimas condições. Foi deputado local e federal, apoiou Marechal Floriano na Revolução Federalista de 1893 e contam sobre isto alguns deslizes autoritários. Ele também cultivou uvas junto ao terreno da Igreja e produziu vinho obtendo, inclusive, medalha de prata na Exposição Nacional do Rio de Janeiro em 1903.
Segundo o Padre José Artulino Bessen, pesquisador que se dedicou à vida de Faraco, o povo de Garopaba gostava mais do padre do que do político e conviveu bem com as excentricidades desta figura, porque acima de tudo ele era um bom pai, que propiciou a melhor educação possível à época para seus filhos.
A casa de dois andares abrigava o serviço paroquial em cima e, embaixo, sua família. Conta a lenda que ele era amigo de uma viúva que tinha uma filha jovem, de 14 a 16 anos, que se chamava Arminda. Ela costumava visitar o pomar do Padre para colher frutas. Um dia a mãe o visita com a filha grávida e ele assume a moça. Passam então a viver juntos. Tiveram oito filhos: Miguel, Theófilo, Francisco, Paulino, Daniel, Maria, Rosa e Gabriel.

Houve alguma resistência inicial à ideia de Suzi e Wolf junto à comunidade católica atual, por se tratar de um local ao lado de uma Igreja. Mas depois de muita conversa e reuniões, tiveram o aval por unanimidade. Não seria só mais um restaurante, “A Casa do Padre” traz consigo a tradição de Garopaba e contribui para a difusão de sua cultura local.
Não estamos aqui a julgar alguém, principalmente um homem de Deus, mas a verdade é que logo após a abertura do novo espaço em Garopaba, alguns incidentes bizarros aconteciam. Problemas no freezer, copos quebrando, sabe-se lá... Até que um dia alguém perguntou se o casal havia pedido licença ao Padre. Era só o que estava faltando para o toque final do novo ponto. Feito o pedido, uma sessão especial de “limpeza” e permissões, deu tudo certo.
Ao nos sentarmos naquele deck, saboreando pizza com espumante, podemos vislumbrar a lua cheia e ouvir a história do construtor da casa e também soubemos que Garopaba é bem mais antiga do que pensávamos. Mas isto é outra história.

Na noite seguinte, a sócia do trailer Rosana e o marido Maurício também passaram momentos agradáveis no point da Igreja. Levaram junto nosso mascote e ele fez sucesso com o pessoal que curtia os comes e bebes e o astral do lugar.



Já estamos com saudades de Garopaba e não vimos a hora de retornar aos seus encantos, entre eles, sem dúvida, à Casa do Padre. Durante a baixa temporada ela permanece aberta de quinta a domingo, das 17h30 às 23h, com novidades de inverno no cardápio. Vai por nós: é um programa para comer bem, rezar em agradecimento e amar do início ao fim!
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